Esfacar-me-ão meigamente mas as minhas costa são largas e têm a sensibilidade de um troll. A razão é simples: encarei a vida como um problema, mas sem ter consciência que o fazia.
O que é preciso fazer para se resolver um problema? Primeiro compreendê-o e depois criar formas de resolução. Quem tenta fazer isso ao contrário, acaba por se deparar com um indivíduo que faz aquela pergunta que nos faz passar por palhaços: “mas afinal qual é o problema?”
Eu próprio tentei fazer isso mas inevitavelmente acabei por perceber que primeiro tenho que compreender o que me irrita; o que realmente me incomoda. Entrei por isso numa pequena viagem mental de introspecção com o objectivo de definir o problema: eu próprio.
Actualmente, considero que já passei a primeira fase. Obviamente que isso não significa que já sei tudo o que preciso de saber. Estou apenas com aquele falso sentido de segurança enquanto espero pela pessoa que me dê a entender que estou errado (apesar de acreditar que ainda faltam uns bons anos até que isso aconteça).
Recentemente comecei a busca por métodos de resolução mas ainda não encontrei nada. A razão para isso prende-se com o facto de eu, como qualquer pessoa, não passar de um escravo sem qualquer liberdade de escolha. De facto, por muito que o Homem evolua, nunca terá a liberdade total garantida: o corpo e o tempo limitam-no; tornam-no escravo.
A minha alma (chamem-lhe aquilo que quiserem; para mim o que interessa é a ideia por detrás da palavra) pode querer viajar pelo mundo e mudá-lo para melhor, sorver a vida e voar sem limites. Mas o corpo não deixa. O cansaço acaba por aparecer e a pessoa envelhece e perde força. Resumindo, trata-se de uma concha que nos protege mas que também nos limita. É por isso é que adoro dormir. Durante algum tempo, saio do meu corpo e viajo por mundos que inventei e onde não tenho quaisquer limites. Bem, na realidade isso não é bem assim. Até quando sonho não sou livre, pois não controlo o tempo.
Por que é que o tempo nos restringe? A maioria das pessoas responderia: “porque nunca temos tempo para nada!” Sejamos razoáveis: tempo não nos falta. O que nos falta é ter controlo absoluto sobre o nosso tempo. Por exemplo: podemos querer ir a um jantar de convívio, só que não naquela altura. Temos a liberdade para escolher se vamos ou não, mas não podemos escolher quando é que o jantar ocorre. Tenho plena consciência de que, ao estar a definir o tempo que desejo posso estar a restringir a liberdade dos outros para escolher o seu próprio tempo. Mas como o tempo é relativo, talvez num mundo utópico todas as pessoas se encontrem porque e quando o desejam (pelo menos tenho um mundo assim nos meus sonhos...).
Quero que o corpo e tempo não me escravizem. Será pedir muito? Afinal, o tempo é nosso, tal como o corpo. Quando nascemos, não nos dão só um corpo; dão-nos também tempo. Novamente errado. Na realidade, nenhum dos dois é nosso e é por isso que a Morte existe. Por um lado, o corpo e o tempo podem unir-se e impedir-me de fazer seja lá o que for; por outro lado, a alma pode ficar farta de ser escrava e insurgir-se pela liberdade, abandonando corpo e tempo, em simultâneo. Não sei qual é a resposta certa mas, para ser franco, também não a desejo saber por enquanto.
Por agora, quero apenas tentar reolver este problema; este puzzle, vá lá. E tenho a sorte de poder ver o que os outros fazem (consciente ou inconscientemente) na sua prórpia quest. Para além disso, algures no mundo alguém já deve ter a sua solução e talvez eu consiga aprender alguma coisa com essa pessoa. Uma coisa é certa: não há resoluções iguais, pelo que não vale a pena copiar o que os outros fazem. Temos que ser nós próprios a chegar às conclusões. Isso já percebi.