domingo, junho 22, 2008

Essência do Oriente

Vi hoje uma notícia sobre livros de auto-ajuda. Um ex-bombeiro afirmava que o segredo para a felicidade é o pensamento positivo. A minha reacção foi a de um simples suspirar de cansaço. O mesmo discurso de centenas de anos volta a ser utilizado para vender mais.
Os pobres não têm dinheiro para a felicidade pois não podem comprar o livro positivo. Preocupam-se em satisfazer as suas necessidades e, quando o conseguem, são invadidos por uma sensação de alívio. Naquele momento estão óptimos e, até voltarem a sentir fome ou até á próxima factura, terão tudo o que precisam. Não têm tempo para olhar para os outros, para verem o que não têm mas podiam ter se se esforçassem mais. Não têm o livro mas também não lhes faz falta pois, por incrível que pareça, estão felizes.
Já nós que não nos preocupamos com a falta de comida e podemos navegar na net à vontade, escrever textos sobre livros de auto-ajuda, comentar o que se passa no nosso país e discutir religião, achamos mais difícil encontrar esses raros momentos. Quando não sabemos o que nos faz falta mas sentimos falta de algo, estamos perdidos. Olhamos para os outros procurando pistas. Talvez um carro, uma viagem ou um livro. Procuramos nos outros algo que nós possamos possuír, deter; algo que seja nosso e que traga a solução para o nosso vazio. Não conseguimos largar o ideal básico de que a solução pertence-nos e não é partilhável. Não conseguimos olhar para os nossos pares e ver a solução não no que eles têm, mas sim neles próprios.
Todas as pessoas são inseguras, sem excepção. Todas podem ser ajudadas e ajudar. Desde uma palavra de conforto de um desconhecido até um toque entre duas mãos. Estes pequenos gestos trazem a felicidade. Só precisamos de dar atenção à essência da pessoa. Absorver tudo, desde o olhar meigo e gentil até ao sorriso de escárnio e mal-dizer.
Não acredito no pensamento positivo. Sei que o pensamento existe mas não acho que seja a solução, mas sim o problema. É por pensarmos e temermos o que os outros pensam que nos escondemos por detrás de pesadas máscaras e criamos fortes e corajosos guerreiros que de nada têm medo mas que em ninguém confiam. Afastamo-nos e conversamos sem ouvir, procurando nos outros as armas que nos faltam para combater a vida.
É curioso que eu escreva estas palavras. Não sou como o ex-bombeiro que ficou multimilionário com o pensamento positivo do livro. Nada em mim indica que eu sigo o que prego. Não sou dado ao abraço irracional nem à confiança nas pessoas. Ferido no passado procurei a felicidade nas coisas pequenas da vida. Desde o cheiro da relva húmida após uma chuva de Verão até a uma lareira aquecendo-me numa noite de Inverno. Com o passar do tempo, a minha idea de felicidade foi perdendo pessoas, desde amigos à família. Até que um dia estava sozinho e sentia-me feliz nesses momentos.
Costuma-se dizer que só sentimos falta do que não temos. Eu pensava que não precisava de pessoas mas quando surgiu a ameaça da perda, perdi o gosto pelo cheiro da relva e pela lareira acolhedora. Nada disso teria sentido. Felizmente tive uma segunda oportunidade e não tenciono desperdiçá-la. Tenciono partilhar todos aqueles pequenos nadas que me traziam felicidade com quem me rodeia, e assim voltar a sentir aquele raro momento de alívio. Mas facilmente o corpo não obedece à mente, e muito menos ao coração. Sou um solitário anónimo e, como tal, tenho que viver cada dia de cada vez, esperando conseguir afastar-me lentamente dos meus velhos hábitos.

quarta-feira, junho 18, 2008

Amendoins

Estou bem disposto.
Sinto-me bem sem conseguir explicar porquê.
Se soubesse não seria a mesma coisa.
O inexplicável não é argumentável,
Está na minha essência e completa-me.

Nada me oportuna em demasia.
Sorrio por tudo e por nada
E tenho vontade de rir.
Estou com o chamado vipe de boa disposição.
E com o vipe volta a estupidez...

A verdade é que puxei o autoclismo
E lavei o trono de porcelana.
Não sei se voltarei a sentar-me lá.
Tive muito tempo aflitinho
Mas agora estou mesmo na boa.

Há quem diga que isto é liberdade.
Eu cá acho que foi dos amendoins.