As palavras tiram-nos o controlo.
Nunca disse o que devia
Nem acho que alguma vez o irei conseguir fazer.
Revejo alguns diálogos,
Penso no que deveria ter dito.
Tantas hipóteses!
E eu fui logo escolher a cena mais estupida
E que em nada me representa.
É como se estivesse a ver o meu corpo,
Qual marioneta controlada por outrém,
A mentir e a asneirar sem razão nenhuma.
E lá estou eu, pateta alegre,
Tentando desesperadamente fugir do meu corpo
E apenas voltar quando o buraco estiver bem fundo,
Para que me possa esconder.
Atropelo-me e assim continuo.
Acabo a falar sobre algo que não queria,
Que não é indicado
Nem interessante,
Que só provoca olhares confusos.
“Afinal, o que é que este quer?”
Bem, eu só quero conversar
Mas aparentemente isso é complicado.
Sou estupidamente incapaz
E em vez de me calar, não!
Ainda falo mais.
Acresento piadas sobre pressão,
Muito más (ou piores do que o habitual)
E lá chego aos risinhos nervosos.
Será preferivel passar por tudo isto
Ou ter a gentileza de um bicho do mato
E dizer: “Acabou a conversa.
Claramente não tenho mais nada de jeito que te possa dizer,
Por isso é melhor pararmos por aqui
Antes que estrague tudo”?
Porra, o que me irrita é que até tenho jeito para monólogos!
E isso não é mais do que egocêntrismo.
Significa que prefiro ouvir-me a falar comigo próprio do que ouvir-me a falar com outrém.
Mais valia conversar desta forma:
“Fala aí qualquer coisa para que eu fique mais rico como pessoa sem sentir que tu ficaste mais pobre por teres que me ouvir.”
Talvez esta luta perdida contra o silêncio
Seja aquela parte chata do nosso enriquecimento.
....
Já nem sei o que escrevo.
Apenas sei que nunca encontrei ninguém assim.
Mesmo aqueles que estiveram menos bem nas palavras
Apenas me fizeram sentir bem
Por saber que são tão humanos quanto eu.
Só espero que também sejam compreensíveis.
Caso contrário, terei que passar a trazer comigo um cartaz
“Não ligue. Ele não sabe o que diz.”
terça-feira, fevereiro 12, 2008
Bicho do mato
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