domingo, março 26, 2006

A única certeza no mundo...

Faleceu a minha prima Palmira com 93 anos de idade. Já não me lembro quando foi a última vez que fui a um funeral, logo, não tinha muito presente o quanto estranho era o ritual em que estive. Primeiro eu e os meus pais fomos "velar o corpo", não fazia a mínima ideia o que significava aquela expressão. Aparentemente, significa estar presente para receber todos aqueles que queiram prestar um última homenagem ao defunto, neste caso defunta. Foi absolutamente incrível a quantidade de coisas que me passaram pela cabeça naquela altura. O cinismo das pessoas metia-me nojo,pessoas que nunca ajudaram a minha prima em situação alguma, pessoas que falavam mal dela nas costas, que nem um telefonema faziam sequer a perguntar como ela estava, agora apareciam todas... todas com uma cara de profunda mágoa e tristeza estampadas no rosto. Sempre acreditei que o importante é respeitarmo-nos uns aos outros em vida, na morte... de que nos vale? "ganhamos o céu" com isso? ou será só para muitos de nós mostrarmos o nosso lado "humano"? Até eu me senti perdido dentro daquela betoneira de indiferença, dentro daquele poço de falsidade que era o quarto onde a minha prima estava. Uma cascata de perguntas inundava-me a cabeça. Será que sofreu ao morrer? será que Deus existe? para onde vão os sentimentos quando uma pessoa morre? porque é que estamos destinados a morrer? proque estamos nós aqui? Será que acaba ali? Se não, para onde ela irá?...
Nada
Durante o enterro as mesmas perguntas amontoavam-se na minha mente... a minha mãe chorava...o meu pai como sempre contia o que sentia... e eu... bem... eu tinha perguntas...
Sempre fui sincero, no mínimo, comigo mesmo, e digo-vos, não vou sentir falta da minha prima...mas vou sentir falta da Palmira... a pessoa, o ser - humano, sim porque pessoas como ela fazem falta... se a conhecessem saberiam do que é que eu estou a falar.
Sei que a minha prima era católica e muito, nós cá em baixo ficámos tristes por ter partido, mas se tudo em que a minha prima acredita for verdade, então o céu ficou bem mais alegre...

Beijos do teu priminho
Armando Jorge

4 comentários:

hcg disse...

A morte provoca sempre muita dor e dúvida. Principalmente quando não é a nossa... O texto tá bacano e vê-se que já respeitas mais as crenças dos outros. Espero que a nossa argumentaçãozinha tenha ajudado ligeiramente a isso :-b (já sei que vais odiar esta parte do comment mas xmaballs, lol)

Tigas disse...

Falsidades à parte, a morte tem o dom de provocar nas pessoas uma certa inércia exterior, que às vezes é incapaz de conter o tumulto que vai dentro de nós.
Quando morreu a minha avó senti isso de que falas, da falsidade, do chorar porque parece bem, da merda que são algumas pessoas que supostamente são "família".
Foi das únicas vezes que chorei na vida, e aquela única lágrima que me escorreu do olho direito foi só para a minha avó, e fez-me esquecer tudo o resto.
Para mim, velar alguém é prestar-lhes homenagem pelo que fizeram em vida e pelo que continuarão a fazer depois de morrerem, nas nossas recordações.

Anónimo disse...

Sabemos o inevitável mas não podemos parar de viver pois um dia os outros não pararão por nós

Anónimo disse...

bem.....é triste mas ja tinha 93 primaveras e n tera ela vivido o suficiente para se despedir deste mundo com um sorriso no rosto?? ;)