quinta-feira, setembro 28, 2006

Comparações

Nós temos uma panca bem lixada. Comparamos tudo o que é fisicamente possível para conseguirmos determinar o que é melhor e pior. Todos o fazemos sempre que temos que fazer algo, o que é normal uma vez que não existe outra forma de decidirmos. Mas se pensarmos nisso com cabeça fria e observámos as nossas acções como se estivessemos a ver um aquário com peixes, vemos somente uma coisa. Tal como achamos estúpidos os peixes que andam maravilhados às voltas no aquário, achariamos estúpida essa tendência de comparar tudo. E isso agrava-se ainda mais quando comparamos pessoas.
Um individuo não tem nada que se comparar a si próprio com outros com base numa avaliação de um terceiro, que muitas vezes é subjectiva ou, no mínimo, extremamente limitada. Digo com base em terceiros pois, em última instância, é isso que molda a avaliação que fazemos de nós próprios, mesmo que de forma distorcida. Não lhe serve de nada comparar; só lhe alimenta o ego. É bom que todos tenham ego mas não em demasia e jamais desta forma. Isso é mau porque surge a tendência de se partir do particular para o geral. Ao sentir que é melhor numa infima coisa, pensa que é melhor em tudo; que é uma pessoas melhor. E isso acontece em tudo na vida; ora fruto de uma avaliação formal, ora fruto de uma avaliação informal.
Ficaria deveras entretido se pudesse observar uma pequena experiência que testasse isso. Supondo que cada pessoa era avaliada segundo os critérios por ela escolhidos, de tal forma que só ela sabe se a sua avaliação é boa ou má, não a conseguindo comparar com ninguém. Por exemplo, um mesmo avaliador, com uma avaliação idêntica e positiva para duas pessoas, diz a uma que é uma grande puta e a outra que é fofa aos Sábados. Seria de se esperar que ambas se sentissem satisfeitas com tal avaliação. Mas, na realidade, sentem que ainda podiam ficar melhor... “Quanto é que teve o outro?” “Certamente que grande puta é mau por isso eu devo ser melhor.” “Fofa aos Sábados parece ser medíocre por isso ele deve ser pior que eu.” A curiosidade acabaria por levá-los a criar um sistema comum que lhes permitisse fazer comparações. E tudo isso para se poderem sentir um pouco melhores, mesmo havendo o risco de ficarem piores... Quão tacanha pode ser a mente humana que nunca fica satisfeita com nada? Se somos estupidos, ao menos que o admitamos!

3 comentários:

Iauman disse...

Ser tacanho é de certa maneira ser egoista em perpectiva pois não se está a dar liberdade a infinitas perspectivas que existem do mundo mas às vezes ser tacanho salva-nos a vida pois fazer comparações injustas pode por vezes ser instintivo em situações em que a parte racional não tem tempo.
Ser tacanho fazendo comparações tem tanta importancia como qualquer outra operação no cérebro pois vai-nos permitir ser humilhados e tentar fazer algo ou sentirmo-nos melhor com nós mesmos ou mesmo permitir de certa maneira que nos sintamos humildes (situação que aconselho viavamente)....

Fiz este comentário porque achei de certa maneira o post do hcg algo negativo para com as comparações quando por vezes assim não é.

Queria aqui dizer mais uma coisa:
"Não pretendemos incutir comportamentos nas pessoas mas às vezes é bom relembrar algumas parvidades."

hcg disse...

Não nego que se não comparassemos nada, seria virtualmente impossível escolher/decidir seja lá o que fosse. Concordo plenamente que é algo de institivo essencial no nosso quotidiano e que nos pode ensinar imenso (humildade é um dos ensimamentos mais difíceis e importantes, na minha opinião).
Mas convém, e é esse o objectivo do post, ter consciência de que o fazemos; de que no fundo na nossa mente existe uma irracionalidade que nos guia. Digo isso pois racionalmente nunca deveriamos partir do particular para o geral quando comparamos e nem deveriamos comparar coisas virtualmente imcomparáveis.
Mas ainda bem que o fazemos! Digo com orgulho que a minha razão também é irracional, ou seja, que sou estúpido! Aliás, se formos ver o significado da palavra, não existe ninguém que nunca o tenha sido. Mas será que têm consciência disso? Mais, será que o conseguem admitir?

Tigas disse...

Eu cá sou estúpido de certeza! Não só o admito, como quem me conhecer minimamente rapidamente o percebe. Haverá certamente uns mais estúpidos do que eu e outros menos. O truque da comparação, é talvez descentralizá-la, de forma a que o seu enfoque seja não nos elementos comparáveis, ou tão pouco no grau de estupidea da acção avaliada, mas simplesmente na estupidez. Isto é obviamente impossível e por isso mesmo, mas não só, todos continuaremos a dar azo a comparações: umas simples, com o elemento tradicional "como", outras mais rebuscadas, sem qualquer elemento identificativo específico (há quem lhes chame metáforas).
Eu que sou estúpido, fá-lo-ei de certeza.